
A iniciativa de falar do divórcio pela primeira vez de forma séria partirá de si ou dele. Só há mesmo duas alternativas. Saiba quais são.
Na verdade, por vezes o casal aborda o tema do divórcio. Isso acontecerá ou no meio de uma discussão mais acalorada ou por qualquer pretexto em que o tema vem ao de cima. No entanto, por regra, quando a palavra ‘divórcio’ surge descontextualizada de um ambiente de efetiva rutura ela pouca relevância terá. Dir-se-á que não é para levar a sério.
Isso já não acontece quando a palavra bate certo com as atitudes que o outro cônjuge tem tido ultimamente, nomeadamente, por não estarem de acordo com as rotinas. Entre outras situações, porque aparece tarde em casa quando antes chegava logo depois do trabalho; evita a sua companhia, quando antes a procurava; é menos expansivo no trato quando no passado era conversador e brincalhão.
Na eventualidade de a decisão partir de si, então deve ser por si que ele deve ter conhecimento. Saber do que se passa por outra pessoa — alguém a quem confidenciou as suas intenções, os seus filhos, familiares — é uma péssima forma de iniciar o procedimento. Aliás, a forma e o momento da comunicação da sua decisão é essencial para gerir corretamente o assunto, nomeadamente, é determinante para que seja um divórcio por acordo de ambos e não um divórcio sem consentimento. Assim como marcará o tom para o relacionamento pós-divórcio bem como para com os seus filhos.
É importante ter a sageza de procurar compatibilizar a sua vontade — não querer mais o casamento — com a vontade (e os sentimentos) do outro. É preciso respeitar isso, mais que não seja, porque ambos têm uma história em comum feita, também, de bons momentos. Porque há um passado (e um presente) de que outras pessoas fazem parte — desde logo, os seus filhos e os familiares de ambos.
Também é natural que a notícia que lhe vai transmitir não seja assim tão surpreendente. Afinal, nunca é uma decisão de um dia para o outro. O outro cônjuge já saberá, bem lá no seu íntimo, que o casamento andava doente. Por vezes, dar a notícia é também um alívio. Mantê-lo na incerteza, nestas situações, é prolongar o sofrimento. Por isso, nada melhor do que ambos se sentarem e falarem abertamente sobre o assunto.
Claro que sendo sua a iniciativa deve então preparar minimamente a conversa que irá ter. Invista algum tempo nisso, porque ela pode conformar o futuro.
O QUE DEVE DIZER:
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O QUE NÃO DEVE DIZER:
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Tome nota que a sua conversa não tem de ser necessariamente a última e definitiva. Se percebe que a abordagem foi infeliz, que a reação dele vai ser imprevisível, pode sempre dizer que, apesar de tudo, ainda não tem certezas…, que o divórcio é um tema que deveriam considerar para bem de ambos e dos filhos….
É também natural que o seu cônjuge não lhe dê de imediato uma resposta. Ele precisará de tempo também para pensar no seu futuro. Poderá estar em choque ou não. Mas, pelo menos, irá sentir-se como não tendo a situação sob controlo. Por causa disso, o mais natural é querer pensar sobre quem fica com os filhos, com a casa e como será dividido o património. Isso poderá demorar semanas ou meses. Importa que tenha paciência embora deva perceber se realmente ele anda num processo de tomada de decisão ou, então, o que procura é ganhar tempo, porque não pretende facultar-lhe o acordo. O momento chave para perceber isso é, a determinada altura, fornecer-lhe um rascunho dos acordos necessários para que o divórcio seja oficializado. Se a situação não evolui mesmo com a documentação preparada — isto é, ele não apresenta contrapropostas e também evita que se fale no assunto – então é porque, na verdade, as intenções dele não coincidem com as suas.
ATENÇÃO: Uma conversa pessoal, num local tranquilo, com disponibilidade, é a forma ideal para abordar o tema. A casa de ambos será o sítio mais adequado, quando os filhos já estão a descansar.
No entanto, se suspeita que o seu cônjuge vai ser fisicamente agressivo é preferível não ter essa conversa. Nesses casos, sendo as suas suspeitas sérias e com um histórico já de violência, terá de tomar atitudes de surpresa para se proteger, a si e aos seus filhos. Nomeadamente poderá agir por intermédio de providências cautelares que lhe facultem a residência das crianças e que lhe permitam criar um perímetro de proteção que evite a presença do outro.
Quando é o outro que toma a iniciativa de ter este tipo de conversa e o apanha de surpresa deve manter-se calmo. Se o tema está a ser discutido é porque ele é incontornável. No entanto, tem de compreender se a decisão tomada pelo outro é definitiva ou se é um ‘aviso’ mais firme para ainda procurar salvar o casamento. Tem de saber respeitar a decisão que foi tomada. Compreender que só pode haver casamento se os dois assim o quiserem. Concentre-se antes no futuro e deixe para trás o passado. Ouça as razões, mas evite discuti-las, culpabilizando o outro pelo que aconteceu. Perceba que tem os filhos e a sua estabilidade emocional para proteger. Tem de se fazer forte, enfrentar os factos e procurar apoio de profissionais. Por isso, não tome, na altura, qualquer decisão. Nem fala com as crianças nem com familiares sobre isto até saber o que deve fazer. Nunca sabe se a decisão será efetivamente definitiva. Acima de tudo, precisa de tempo para compreender o que se passa.
Não se esqueça ainda do seguinte: ocorrem situações em que, depois do casal falar em divórcio e um deles sair de casa, mais tarde, se juntam novamente, porque compreenderam que o vazio que sentem pela ausência da família é inultrapassável. Daí que, nessa primeira conversa, deve admitir esta possibilidade, evitando que a situação fique irrecuperável.
Quer a iniciativa tenha partido de si quer não, procure de imediato objetivar o tema. É realmente muito importante que as questões a tratar (filhos, património, casa de morada de família e alimentos) se façam com a presença de profissionais, em reuniões marcadas para o efeito. Elas devem ocorrer logo depois da decisão de que o divórcio é para avançar. Evite cair na tentação de procurar resolver estes pontos apenas com o seu cônjuge, entre o jantar e o deitar. Além de não terem conhecimento técnico adequado, de as informações que circulam na internet serem muitas vezes erradas e antiquadas, facilmente caiem na ratoeira que vos leva ao insulto pessoal e à recriminação. Isso pode ser um ponto sem retorno. Com a intervenção de profissionais, nomeadamente mediadores ou advogados, as questões ficam muito concentradas naquilo que importa e os aspetos pessoais passam para segundo plano.